O guarda-chuva atrás da porta
guarda-se da chuva
atrás da porta que me esconde
onde escondo segredos molhados
de
outras chuvas
as uvas – passas – secam
minha alma no quarador
peca
enquanto a água
doura-se espicaçada por punhais celestes
na
retina
descansa a levedura das mágoas
lívidas
os sonhos escorrem pelas paredes
desbotadas
dos séculos
como espectros
a sombra sobre o telhado molha-se
por cima impermeável
prata chuva cinza
gotas metálicas cortam
hélices o ar varrem
metáforas encharcadas
–
quase me afogo