sexta-feira, 30 de março de 2012

O VERBO AMOR EM VERSO





O amor que conjuga,
conjuga-se ao verbo sonhar,
infinitamente.
Intransitivo verbo amar
derrama-se, posto que é mar.

Em toda extensão, líquido Saara azul
fosforesce.
Trêmula flâmula bruxuleia
no ápice inatingível um quê de eterno.

O amor – raiz
do mais dócil sentimento – assiste
amantes desvalidos e venturosos,
cordial no indicativo presente
anda de mãos com a esperança, atadas,
convence, perdoa, renova.

A tempo, o amor – sinônimo de perdão – ensina
o ofício doloroso da lealdade,
quebra algemas, redime
no último hálito o ladrão. 

sexta-feira, 23 de março de 2012

a morte de uma estrela

morre uma estrela
de primeira grandeza
há muito apagada
pela turva luz
de uma vênus platinada

terça-feira, 13 de março de 2012

DÓ EM MI(M)




carnuda
me polpa
cabeluda
mentira
me tira de mim
sisuda
me arranca
a sério do olvido
e me atira
pela culatra

ladra pelo cu
um palavrão
que absurdo
não ouço
nada
entendo até
sua postura

sexta-feira, 9 de março de 2012

VALSA PRA BIA



Já plantei semente na terra
Quando a terra nem forma nem luz exibia
Melodias compus todas elas em clave de dó
Todas elas ao vento entoadas de cor
Já tracei paralelas a fio
Partindo de um ponto qualquer no infinito
Trajetórias no breu por onde o amor me levou
E me deu de presente o sonho de flores ser

Fecundei de uma estrela em segredo
Revirando constelações
Dei à luz uma bailarina como da costela de Adão
Veio na ponta dos pés
Me tirou pra dançar
Me envolveu e me levou a um lugar seu
Mas na caixinha em que rodopia
A música que toca sou eu

PRIMEIRO GRITO


Quando ainda não havia crepúsculo,
Quando tudo ainda era silente,
Você nasceu do primeiro grito
Que retiniu na boca do vento,
Surgindo para o ósculo vívido da manhã.

Um breve intervalo se fez,
E outra vez,
Até se romper a fímbria celeste,
E mais uma vez,
Até se revelar a sua doce presença
Desabrochada à luz frouxa de um novo dia.

Ur só

MERA FICÇÃO

Por um beijo seu me espalho,
Enfrento a fúria do Irã,
Os navios de piratas,
As marés de Amsterdã;

Desafio tempestades,
Potestades e dragões;
Atravesso o mar a nado
No rumo do seu coração.

Finjo que sei seu paradeiro…
Meu destino aventureiro
De viver essa ilusão…
E nessa aventura louca
Desconfio que a sua boca
Não passa de mera ficção.

Brigo e choro, me embriago…
Tudo que você me fez:
Pinto e bordo, transbordo,
Perco o limite da insensatez…

Por um beijo seu desvairo,
Apronto um escarcéu,
Apago a luz da lua, tranco a rua,
Retiro as estrelas do céu…
Faço tudo e não sou nada
Pra ganhar um beijo seu.

(Musicada por Márcio Valverde e gravada por Lívia Milenna - Santo Amaro da Purificação/Ba)