sábado, 23 de novembro de 2013

OUTRAS CHUVAS


O guarda-chuva atrás da porta
guarda-se da chuva
atrás da porta que me esconde
onde escondo segredos molhados
                                   de outras chuvas

as uvas – passas – secam
minha alma no quarador
                                   peca
enquanto a água
doura-se espicaçada por punhais celestes

            na retina
descansa a levedura das mágoas
lívidas

os sonhos escorrem pelas paredes
                                   desbotadas dos séculos
como espectros

a sombra sobre o telhado molha-se
por cima impermeável
prata chuva cinza
gotas metálicas cortam
hélices o ar varrem
metáforas encharcadas

                                   – quase me afogo

MEA CULPA

Um beijo na face clara dos meus medos
E um livro jogado sobre a mesa
Aberto em Drummond

Pensei em cortar os pulsos
Mas uma enxaqueca
            aguda e mesquinha
Despistara a minha insanidade nesse instante


Por um triz não fui fatal