Nem tudo o que vivenciei recordo,
muito se perdeu nos estreitos da memória,
diluído pelo dilúvio de novidades
contínuas em profusão estonteante.
Algumas visões teimam em vislumbrar:
resquícios de pesadelos povoando de
sobrenaturalidades
as sombras dos dias tão cheios
de deslocamentos e barulhos;
rápidas impressões que não cessam de espocar
seus fogos de artifício
como em um eterno Réveillon;
fragmentos do cotidiano, invisíveis,
supostos na dura permanência das coisas.
Só o amor fez falta. É fato.
Única recordação severa.
Retratado nas velhas fotos
o amor falsificado vigeu.
Não escapou, contudo,
o sorriso amarelo do homem pardo,
alado, ao lado de outro pardo
e semblante átono.
No entanto,
nenhuma saudade amarga ressalta agora.
A ilusão com suas asas gigantescas
cumpriu papel impermeável
de proteger a carne do espírito e vice-versa.
O pouco que ficou, fincou
garras e fez sobreviver o menino
em meio a bolas de gude,
um caleidoscópio e outras tralhas
– apesar dos pesares.
A memória nunca fora exigente,
futurava agônica
pelos vergéis de pedra e cal um deleite fortuito,
apenas.
Nem que eu quisesse
remontar de lembranças minha vida atual
não haveria como
pontuá-las.
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