bem-te-vi borboleteando ao vento,
respirando a seiva do ar-de-dia,
fingindo malmequer…
linda-flor aos regalos de um beija-flor,
transborda o licor do próprio cálice
sobre prímulas amiúde…
boa-noite – o teu perfume me enleva…
vetiver adormecida num quarto-crescente,
repousada sobre o leito de um rio
que se ufana de ostentar
a maior das vitórias-régias
e a glória de uma estrela já consagrada…
jacinto – a tua presença renovada
como a de uma papoula…
sempre-viva sempre meiga…
bebo de estroinas açucenas…
o sabor amaro do absinto me embriaga assaz…
sussurram bocas-de-dragão em meu olvido
cantilenas de narcóticos
enquanto a rosa-dos-ventos vai me guiando
por rotas onde nascem
rosas amarelas, violetas lilases, dálias carmins…
fecundo alvas angélicas, seduzo boninas etéreas,
flerto distraídas camélias,
beijo margaridas na presença de ciumentos cravos,
sonho tenras orquídeas e gardênias…
suave é o beijo-de-frade na boca da noite…
não-obstante, pétalas brancas de adeus
enchem com lágrimas de Santa Catarina
sóbrios olhos d’água…
enrosco-me nos teus braços de mar
entre delírios de lírios e jasmins,
entre carícias de acácias
e de mãos adereçadas com os anéis de saturno…
quanta formosura vê a menina-dos-olhos
através do cristal das tulipas – coisas tão
efêmeras,
sobretudo as que se dão de amor-perfeito…
no entanto, o acaso do ocaso é o que nutre os
casulos:
daí as borboletas e suas asas irisadas…
do mesmo modo com as alamandras reluzentes,
também com as hortênsias…
ademais, o giro do sol em torno do girassol
descreve a trajetória que percorrem os astros
dando sentido aos versos, aos vícios…
cometas cruzando o céu da boca;
línguas de fogo tangendo crepúsculos;
luas seminuas de marfim, plenas;
telas de onde despencam avencas
rabiscadas de hibiscos…
escrevo cartas náuticas em folhas de outono…
canto aos quatro cantos do mundo…
por fim,
embrenhada nos lençóis freáticos de lavras
diamantinas
a minha alma adormece…