a Marilene
Uma mulher recém-chegada
atravessou o meu dia
sem culpa, sem respostas,
sem interesse aparente,
sem portar absolutamente nada.
Passou arredia pelos meus olhos
em meio a outras
e sentou-se à frente
de costas para a esfinge.
Desejou em segredo, distraída,
de já pertencer a um destino mais novo.
Devorava-se em suspensão
na troca de impressões irreversíveis.
Demorava-se assim,
afim de que fosse mantida a promessa
de ser tomada algum dia por nubente.
Vivia da promessa ancestral,
da declaração cega feita à mãe…
Pingava ouro dos cabelos – cabelos enovelados
delicadamente
por ventos descomprometidos.
Pelos, pele – tudo
ao modo de pêssegos frescos…
Tinha os olhos quebrantados por revelações
astigmatizadas,
diariamente absorvidas das ocorrências comuns.
Uma mulher de nuvens esgarçadas,
fluida como uma tarde vazia de expedições,
paralisada ao poente…
Ria levemente, tingida de sol,
prismática,
secreta,
rosicler…
Deitava luminosidades dentro
da escuridão eclipsada – e nem era noite
por acaso.
“Essa mesma mulher, agora,
vive desfilando pelos meus poemas
com uma flor entre os dentes”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Fale comigo.