Os sapatos são para os pés
chão:
repercutem os passos
por onde lhes convidam
os
pés,
indo distâncias desmedidas,
mal
sabidas…
Entretanto,
o ato de não pisar
corresponde a asas
(finas,
tensas,
tenras),
e tudo o que é aéreo
serve de amparo
(mesmo
quando invisível).
As abelhas, por sua vez,
não
desenvolveram hábitos
para
chão – pousam;
parecem desequilibrar-se
quando
soltas de si,
enquanto
secam orvalhos
condensados
sob vigília.
Os sapatos, em compensação,
pedem cera ou verniz
quase infelizes ao pé da cama.
Na planta dos pés as flores
já
nascem esmagadas.
Ao largo do que se pode ver,
o
voo trôpego de uma garça
reflete
nuvens indecisas
de arrebol.
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